A difícil arte de amar ao próximo

 "E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também". Lc 6:31

Ao refletir sobre o princípio cristocêntrico de amar ao próximo, resolvi não usar o versículo mais óbvio. Jesus, ao resumir as leis e os profetas, nos ensinou a amarmos a Deus sobre todas as coisas e, ao nosso próximo como a nós mesmos.

Este princípio, mais ou menos óbvio, nem sempre foi assim. A nação judaica revolucionou por adorar a apenas um Deus e acabar com o sacrifício humano aos seus deuses.

O mentor desta revolução é bem conhecido por todos nós. Abraão ousou em sua época. Num período que o normal era adorar a vários deuses e realizar sacrifícios de virgens e crianças, ele contrariou sua geração ao se tornar monoteísta. 

O episódio mais marcante em sua trajetória talvez seja o iminente sacrifício de seu filho. E sabe de uma coisa, ele iria sacrificar seu filho sim. E por que não? Se o sacrifício a deuses falsos era tolerado em sua época, porque não sacrificar seu filho ao Deus verdadeiro? Abraão ia sim matar seu filho e isso não teria maiores consequências, esta prática era comum e tolerada em sua época.

Jeová ao impedir o sacrifício de Isaque por seu pai Abraão terminava, definitivamente, com o infanticídio e neste momento nascia uma nova nação, afinal de contas, era a partir de Isaque que a nação hebraica se perpetuaria. 

Os valores estabelecidos a partir de Abraão, dos hebreus enquanto nômades e dos judeus, já como nação, permitiram o fim das barbáries na região do Mediterrâneo. Começava-se a cultivar valores de respeito ao próximo.

Estes respeitos estavam postos em forma da lei mosaica. "Não roubarás", "não matarás" ou "não adulterarás" são apenas normas que materializam o respeito às pessoas que te cercam. Jesus resumiu esta lei ao nos dizer que tudo se resume a amar ao próximo como a nós mesmos. 

Agora, se fosse fácil não teria sido posto em forma de lei. Somos, por natureza, egoístas. A exacerbação deste sentimento produz efeito exatamente contrário e por isso deve ser cuidado. Ao assumir uma postura egoísta, estar-se praticando a autodestruição. Muitos, na afã de obter vantagens, cavam a sua própria cova.

Nada, absolutamente nada, dá melhores resultados, melhores frutos que a generosidade. Esta prática produz sensações prazerosas "como uma espada de dois gumes", produzindo bem-estar em quem faz e em quem recebe.

As empresas estão descobrindo isto. Elas tem tido grandes prejuízos com a alta rotatividade de suas empresas. Gasta-se para contratar, para treinar e, quando o funcionário começa alçar voo, provavelmente esta empresa o perderá para uma que oferecer maiores vantagens. E o que isto tem a ver com "amar ao próximo". Tudo! 

Além do famoso QI (coeficiente de inteligência), as empresas estão interessadas em outros "Q's". Há o QE - coeficiente emocional, onde os psicólogos tentam medir seu nível de motivação, alegria e a forma como você vê a vida. As empresas se deram conta que contratam pessoas e não currículos. Seus valores estão cada vez mais importando na hora da contratação. Há o Coeficiente Espiritual, não no sentido que conhecemos, e outros tantos “Q’s”.

Lembro-me quando fui chamado para fazer uma entrevista no Grupo Simões, em Manaus. Tratava-se de uma grande empresa que, dentre os principais negócios, estava a fabricação de refrigerantes Coca-cola para todo o norte do país. Quando me ligaram para a entrevista estava de saída para um congresso de minha igreja e usava uma camisa branca toda preenchida com a sigla CGADAM. Fiquei na dúvida se deveria trocar a blusa ou não. Decidi que se fosse entrar naquela grande empresa eles, de início, já iriam saber que professava a fé evangélica. 

Não deu outra. Lá pelo meio da conversa a psicóloga perguntou o que significava aquela sigla. Falei do que se tratava. Ele me retrucou: "Você sabe que vendemos cerveja". Não tinha interesse de "esfregar na cara" de minha entrevistadora que era evangélico, mas resolvi não mudar minha blusa por causa disso. 

Trabalhei por três anos e tive uma passagem promissora. Tive grandes dificuldades no convívio com as pessoas. O fato de ser evangélico trouxe-me grandes dificuldades, não por o sê-lo, mas pelas pessoas não entenderem meus valores e princípios. 

Houve um episódio marcante em meu primeiro mês de trabalho. Ao chegarmos pela manhã, meu gerente olhou para um dos rapazes que iniciara comigo. Seu nome era Leonardo. Ele cultivava uma simpática barbicha e um cavanhaque. O gerente foi peremptório e indagou: "Você não tem barbeador em casa?". Por incrível que pareça, eu e não ele se sentiu ofendido. Saí imediatamente daquele ambiente, dirigi-me a outra unidade onde era lotado. Procurei meu chefe imediato e pedi a conta.

Minha atitude repercutiu muito dentro da empresa. Não fui demitido e a forma como os chefes nos tratavam melhorou significativamente. Até hoje tenho dúvidas se agi da forma correta, mas não suportei vê aquela situação humilhante. Vocês devem imaginar que meu amigo Leo, ficou grato por tentar "defendê-lo". Muito pelo contrário.  Ele não tinha os mesmos valores e nunca conseguiu entender minha atitude.

Nesta época, eu tinha vinte e sete anos e ninguém tinha mais qualificação que eu na empresa. Tinha apenas vinte e sete anos e, enquanto muitos estavam em seus primeiros anos de faculdade, eu já cursava minha segunda pós-graduação lato sensu

Minha atitude intempestiva foi sustentada por um ótimo currículo. Todos se beneficiaram de minha atitude. Nunca tive o reconhecimento por isso. Não importa. Os meses trabalhando com o Leo e outro que não lembram o nome agora foi um dos períodos mais difíceis em minha carreira. Convivi com duas pessoas muito diferentes de mim. Fomos obrigados a nos suportar e eu, a amá-los.

Nem sempre temos o emprego que queremos ou trabalhamos com as pessoas que compartilham dos mesmos valores que os nossos. Isso não nos isenta de nossa obrigação de os amar, mesmo que este amor se manifeste na forma da intolerância a uma injustiça. Nestes casos, a melhor forma de manifestar o amor devido é através de uma importante palavra: RESPEITO.

Pense nisso e um bom dia.





Comentários

  1. Amém, sejamos nós aqueles que provocaram mudanças, devemos buscar fazer o que Cristo fez, e não simplismente nos conformarmos com a situação.

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    1. Todos os dias meu discipulador, todos os dias...

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    2. esse texto veio em boa hora.... Respeito eh a chave para criar um ambiente ideal de relacionamento tanto no trabalho como nos outros ambientes... Mas o ser humano eh complicado e as vezes aquelas pessoas das quais esperamos o grande exemplo se mostram grandes egoístas

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    3. Meu caro amigo Moisés... sempre procurei nas empresas grandes líderes a quem pudesse seguir... mal encontrei chefes, e a maioria medíocres... os maiores líderes que passaram por minha vida estavam em minha igreja... não tem jeito... é você que terá que ser este grande líder... não espere por ninguém... seja você o líder...

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